domingo, outubro 12, 2014

A historinha de nós sem você

   O sol partia, a luz era linda. Esse sim sabe se despedir com classe... Andava olhando tudo ao redor, como se nada daquilo já fosse antes conhecido por mim; era como se eu pudesse te encontrar passando, atravessando a rua desatento, com seu passo descompassado...Ou em algum dos carros, seguindo sabe Deus pra onde com aquelas músicas horrorosas que você adora ouvir... Eu queria te encontrar ali.
   E assim foi feito o ritual: Um dia, dois... um mês. Um ano se foi e minha consciência ainda consegue maquiar todo o ambiente familiar, para só mais um dia, só mais uma vez, olhar atentamente cada beco, esquina e viela do meu trajeto...Como eu queria te encontrar ali.
   Dia desses eu estava mais apressada, só fui lembrar de te procurar no meio do caminho. Engraçado, culpei-me tanto por não lembrar de te lembrar desde o começo, como sempre...Até inventei pra mim que finalmente aquele dia, em que meu cabelo estava todo desgrenhado, com toda olheira das noites mal aproveitadas e desmotivada a te procurar, você finalmente passou por ali e me viu. "Nossa, como ela ficou diferente...feia, infeliz." Imaginei outros pensamentos sombrios que você poderia ter tido me vendo naquele estado... E mesmo assim, daria o mundo pra te encontrar ali.
   Aí, numa semana dessas em que a gente se acha cheio de energia, de luz e de vida, decidi trocar as músicas do meu ipod, colocar roupas leves, colori os cabelos, os lábios, os olhos. No percurso, pensaria apenas em possíveis encontros ao acaso com qualquer desconhecido que pudesse ser aquele que, entre 7 bilhões de pessoas no mundo, fosse capaz de me fazer te esquecer. Eu deixaria minha bolsa cair para que "ele" me ajudasse a recolher tudo, seria a moça que indicaria a rua certa para "ele" seguir, ou então, atravessaria a rua sem cautela e "ele" me chamaria a atenção para que me cuidasse...E consegui seguir assim...até quinta-feira. A vida não é uma comédia romântica, e se minha vida amorosa fosse um roteiro, com certeza eu seria aquela mulher sensata, inteligente e totalmente dispensável da vida do ator principal, que a abandona ao encontrar a mulher que todos torcem para que sejam a dele...
   Eis que mudo meus planos. Não sigo mais uma rotina e nem caminho pelos mesmos lugares, meu tempo não pertence a mais ninguém além de mim. Antes que presuma, falhei em te esquecer... Continuo te lembrando repetidas vezes em grandes e pequenas coisas, destalhes escancarados de você por todos os meus lados, mas tudo bem... Inviável negar que você esteja em mim. Assim, o deixo distante, intocável, como um bicho perigoso que coloquei numa jaula, acostumei-me a te admirar sem qualquer pretensão que sejas meu.
   Se não mudasse meu caminho, eu te encontraria ali um dia? Não, é provável que não. E também, nunca te procurei com a razão, assim como você nunca me encontrou com a alma. Sim, esse eterno desencontro... E quando é que razões e almas poderão se encontrar?
Quem sabe, qualquer dia eu aceite que bicho que tá preso morre se eu parar de alimentar.
 


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