quinta-feira, outubro 22, 2015

Não me desculpe por te amar.



Se tem algo bom que aprendi nessa constante entrega à arte ao longo desses humildes 22 anos, foi que não devo me desculpar pelo o que eu sinto. Eu não devo me CULPAR pelo o que eu sinto...

Desconfio que grande parte dessas frustrações, dessa insatisfação com tudo e todos, dessa carência em aprender a ouvir e essa mágoa que nos assola, vêm desses sofrimentos velados.

Você, enquanto cresce, torna-se parte do pacto social de "não fazer o papel de ...", de "você tinha de ter pensado e feito isso" de "se você chorar você vai estar parecendo fraca, dramática" de " não, deixa isso pra lá..." e pronto: Aos poucos se transforma num molde -mudo- da normalidade.
Eu sou contra a acomodação sentimental, muito embora não esteja totalmente livre dela. No entanto, eu sei que não há certo e errado quando sou eu que estou sentindo... Se a dor é minha, expresso-a como posso. Se a alegria é minha, tenho todo direito de fazer o que eu quiser com ela... Assim como não busco premeditações sentimentais em terceiros.

Os emudecidos pela normalidade são seres altamente raivosos. A relação construída em meio a um caos de mágoa está pronta pra explodir ao menor sinal de turbulência. E como isso desgasta...

Desgasta eu gostar de você e não poder te falar, desgasta estarmos bem enquanto você não superou de verdade algum erro que eu cometi. - Se as desculpas não valeram, volte, exponha-se, deixa sangrar! Não esconda essa ocasião num canto da memória pra mais tarde escancará-la numa nostalgia de dores.- Desgasta não poder dizer que ainda penso sobre aquilo, que dói, que preciso das suas desculpas... E que agora o que eu sinto latente em mim, talvez não seja o que todos aconselham ser o melhor a se pensar e sentir. Desgasta não ser lembrada como um ser passível ao erro, visto que você também é.
-Corrói toda a amabilidade do mundo essa cultura de doutrinar sentimentos. -

Esse texto não tem um motivo específico, não tem "moral da história". Esse texto (pra quem o ler até o fim), é só pra dizer que eu não me sinto culpada por sentir, eu não me sinto constrangida por demonstrar. Que eu posso e quero aprender a ouvir melhor, eu jamais quero ser alguém irredutível. Que eu reconheço um mistério diferente dentro de cada um e que eu não consigo ser igual a ninguém.
Talvez esse texto exista só para lembrar-nos que não há uma outra vida, um grande dia especial em que possamos conciliar todos esses nós na garganta. Só há esta passagem de futuro impreciso para reforçarmos o amor que temos a quem amamos...Eu não posso deixar para te dizer depois que te admiro, que sinto muito, que reconheço seu esforço, que estou com saudades... Porque o depois não me pertence. E não há nada de mal em sentir, o que intoxica é acobertar.

Na verdade, eu só queria dizer que nunca vou me arrepender do que sinto,  porque os sentimentos são legítimos.
Eu nunca vou pedir desculpas por te amar.