quinta-feira, outubro 16, 2014

Subterfúgio n•1

Te perdôo por me temer
Por querer se perder de mim
Quando pôde reparar
Que nós dois
A dois
Poderíamos funcionar.

Te perdôo por fugir
Sem sequer se despedir
Eu sei, é de se assustar
Essa coisa de finalmente
Ser par
Sem ter que se abandonar.

Mas que direito tinha eu
De trazer fé ao peito (a)teu?
Vazio de tanta vida gasta
Com toda essa gente
Que passa
Pra nos fazer mais sós.

Te perdôo por nos sabotar
Pior que não colher
É ter medo de plantar...
Mas há de se considerar
Que gente inteligente
Não pára de pensar
Especialmente quando o peito diz:
É tudo simples,
Você consegue amar!
E por que é que insiste em tentar
A todo custo ser infeliz?

E a razão, a nossa motriz
Abortou a possível união
Nossa felicidade não pode ser essa
Plena, escancarada
Fazer barulho de gente apaixonada
Sem a segurança da solidão...

Vá, vai ser consternado
Continue só preso a você
Deleite-se com seu peito prostrado
Com nosso jeito de amar errado
Insistindo que não demonstrar
É bem melhor do que sofrer.

domingo, outubro 12, 2014

A historinha de nós sem você

   O sol partia, a luz era linda. Esse sim sabe se despedir com classe... Andava olhando tudo ao redor, como se nada daquilo já fosse antes conhecido por mim; era como se eu pudesse te encontrar passando, atravessando a rua desatento, com seu passo descompassado...Ou em algum dos carros, seguindo sabe Deus pra onde com aquelas músicas horrorosas que você adora ouvir... Eu queria te encontrar ali.
   E assim foi feito o ritual: Um dia, dois... um mês. Um ano se foi e minha consciência ainda consegue maquiar todo o ambiente familiar, para só mais um dia, só mais uma vez, olhar atentamente cada beco, esquina e viela do meu trajeto...Como eu queria te encontrar ali.
   Dia desses eu estava mais apressada, só fui lembrar de te procurar no meio do caminho. Engraçado, culpei-me tanto por não lembrar de te lembrar desde o começo, como sempre...Até inventei pra mim que finalmente aquele dia, em que meu cabelo estava todo desgrenhado, com toda olheira das noites mal aproveitadas e desmotivada a te procurar, você finalmente passou por ali e me viu. "Nossa, como ela ficou diferente...feia, infeliz." Imaginei outros pensamentos sombrios que você poderia ter tido me vendo naquele estado... E mesmo assim, daria o mundo pra te encontrar ali.
   Aí, numa semana dessas em que a gente se acha cheio de energia, de luz e de vida, decidi trocar as músicas do meu ipod, colocar roupas leves, colori os cabelos, os lábios, os olhos. No percurso, pensaria apenas em possíveis encontros ao acaso com qualquer desconhecido que pudesse ser aquele que, entre 7 bilhões de pessoas no mundo, fosse capaz de me fazer te esquecer. Eu deixaria minha bolsa cair para que "ele" me ajudasse a recolher tudo, seria a moça que indicaria a rua certa para "ele" seguir, ou então, atravessaria a rua sem cautela e "ele" me chamaria a atenção para que me cuidasse...E consegui seguir assim...até quinta-feira. A vida não é uma comédia romântica, e se minha vida amorosa fosse um roteiro, com certeza eu seria aquela mulher sensata, inteligente e totalmente dispensável da vida do ator principal, que a abandona ao encontrar a mulher que todos torcem para que sejam a dele...
   Eis que mudo meus planos. Não sigo mais uma rotina e nem caminho pelos mesmos lugares, meu tempo não pertence a mais ninguém além de mim. Antes que presuma, falhei em te esquecer... Continuo te lembrando repetidas vezes em grandes e pequenas coisas, destalhes escancarados de você por todos os meus lados, mas tudo bem... Inviável negar que você esteja em mim. Assim, o deixo distante, intocável, como um bicho perigoso que coloquei numa jaula, acostumei-me a te admirar sem qualquer pretensão que sejas meu.
   Se não mudasse meu caminho, eu te encontraria ali um dia? Não, é provável que não. E também, nunca te procurei com a razão, assim como você nunca me encontrou com a alma. Sim, esse eterno desencontro... E quando é que razões e almas poderão se encontrar?
Quem sabe, qualquer dia eu aceite que bicho que tá preso morre se eu parar de alimentar.
 


quarta-feira, outubro 01, 2014

Lágrima ao mar

Esse abismo
A um toque de distância 
Corpos se encontram 
Mas bocas se profanam. 
Momento que minha loucura inventa 
Que somos dois, 
mas sempre a sós.
O que a cabeça sabe, 
Mas ninguém em mim consente... 
Não te realizo em nada, 
Mesma água numa fonte parada 
Pra um peixe movido 
À maré 
Sou só um rio de gotas 
Sem vento nem fé. 

Me tira daí
Me salva de ti. 
Me rasga, sacode 
Me acode 
De me prender a você 
Me expulsa 
Insulta, grita 
Me deixa adoecer!
De meu, já não sobrou quase nada 
Me tira da sua morada 
Sozinha não vou te esquecer. 


terça-feira, setembro 23, 2014

SOBRE ESTAR ABANDONADA E NÃO SE ABANDONAR

( para Paula Villar.) 


Em quanto tempo se conhece alguém?

Se em cada mente
Um universo
Quem se conhece:
Carente
Quem me conhece:
Mente
E nem tente
Me planejar
Sejamos coerentes
Se agora concordo,
Amanhã te enforco
Sem sequer pestanejar.
Meus carinhos pra você
São flores
Da pele
Mas também sei ferir
Toda fera que fere
Que se alimenta
De gente em carne viva
E depois os organiza
Em conceitos banais
Querer, eu te queria
Mas queria muito mais
Do que manda o figurino
O que era nosso
Tão genuíno
Caiu-se no
"Vir a ser"
Que pena, menino
Primavera vem surgindo
Sem poder te florescer.

quinta-feira, setembro 18, 2014

Flores pra mesa 3

Andei perdendo muita coisa e gente esses dias e acabei ficando mais maluca que o normal. É que estava num restaurante, o mesmo que fomos quando você me deu o livro do Rubem Braga, porque sabia que eu o amava e disse: " - Não entendo como você consegue gostar tanto dessas histórias sofridas com pessoas fictícias. Um filme, pelo menos, acaba logo; seus livros são enormes!". Toda sua gentileza ácida que tanto nos uniu... Mas não era disso que eu ia falar.

Prosseguindo, voltei àquele restaurante. Pedi um suco de maracujá ( não tenho dormido, que novidade!) e assim que o garçom se foi, eu vi um casal. A mulher tinha se levantado para sentar-se ao lado do par. Beijaram-se muito, entre conversas e risos... Pareciam tão íntimos. Você sabe como admiro casais íntimos, esses que namoram há 6 anos, passam natais juntos, têm uma rotina conjunta, viajam, acompanham a mesma série, andam de mãos dadas com naturalidade... Enfim. Mas não era disso que eu ia falar.

Vendo esse casal, passei a ouvir a vida ao redor: A música ambiente, vozes misturadas, risos de todo tipo, talheres batendo nos pratos... A vida fluindo. Aconteceria estando eu ali ou não... Eu observava tudo fluindo, sem fazer parte de nada. Mas também não era sobre isso que eu ia falar.

O que eu queria dizer é que toda essa situação me fez perceber o quanto estava só, visto que na minha ultima visita àquele lugar,  tinha as palavras de Rubem Braga e teus olhos gigantes. Era agraciada com implicância e carinho, e todo aquele afago atencioso nas mãos.

Sabe? Daquele dia pra cá, as pessoas não têm sido muito pacientes com as minhas loucuras. Tão me fazendo acreditar que não sou merecedora do amor verdadeiro de ninguém... Tenho me machucado, sujeitando-me a apenas suprir carências de gente egoísta. Você brigaria tanto comigo se soubesse...E com razão. Ando totalmente fatigada e perdida com esse amor-próprio sádico que cultivo, esse mesmo amor ( ou falta de) que me fez questionar o que tínhamos e sair em "liberdade" por aí. Queria encontrar em outras pessoas algo que, na época ainda não sabia, mas possuía tão verdadeiro e valioso bem ali na minha frente: Eu tinha seus olhos grandes, suas mãos quentes e seu amor.... E hoje tenho só o mundo ao redor e um suco pra me ajudar a dormir.

Obrigada por ter me deixado te amar, mas principalmente, por ter me deixado ser dona do teu amor por um momento. Lembrar de você me fez lembrar que posso sim ser amada de verdade... Que saudade bonita e doce,  sejamos felizes!

terça-feira, julho 08, 2014

Anteposto

É claro
Posto que é honesto
Direto, reto
Como um corte
Um disparo
À queima pele
Queima e fere
A-Tira a roupa
Todo o corpo.
Encho o copo.
Absorto.

É você!
O que te traz
Repele
O que nos une
Difere
De nos aproximar
É você!
Fogo
Vem, incendeia
Foge
Vai, trapaceia
E me deixa queimar
Até me esvair
Até só lembrar
Que ar
Não se tateia:
-Inspira-
E tem que soltar

Sem rastros
Só vultos
Na memória
Um insulto
A quem te amei...
E o que sobrou?
Cicatrizes
Por te cortar
De mim

Vem me ver
Encosta tua pele
Na minha
Vai ver
Só com você
Não estou sozinha.


domingo, julho 06, 2014

Ordem do dia

Aviso desde já
Que isso não é um poema
É só discurso bobo
pra pôr um fim
no teu dilema.

-

Nem sempre os olhares
são aqueles contentes
olhares de amor
por te ver
Nem sempre os sorrisos
são só pra você
que agora os notou.
Tente aprender:
Nem sempre as bochechas
ficam rosadas
porque você elogiou.
Não venha me comprometer.
Nem sempre o que eu digo
eu disse a você
Não seja exibido
Nem sempre meus beijos
são tão verdadeiros
como já foram um dia
(Beijos verdadeiros...
Eu nem sei se poderia.)

Não tente só agora
desvendar meus mistérios
O que eu tenho comigo
É assunto bem sério
Que os anos trouxeram
Com o pesar de sentir.
E sinto, sinto muito
Senti antes,
Sinto agora
E sentirei depois
Independente de ti.
Eu sinto muito, amigo
O que eu tenho comigo
É só meu,
E de ninguém mais.
Vê se pára de se iludir.

quinta-feira, junho 19, 2014

Canções à vácuo

Eu queria conversar com você. Seria estranho a essa hora... Como em qualquer outra.

Pareço agora um instante, instável... Distante.
Não estou aqui e nem em lugar algum.
Sou como a ponta dos dedos dos pés, segurando todo o peso de um corpo que dança num muro. As atenções se viram à leveza das mãos, enquanto tento me equilibrar, desgraciosa. O espaço é estreito, o contato com a pele machuca... Um passo em falso e acabo com tudo.
Será que já caí?

Eu sou como aquele instante em que sua cabeça hesita "Vale a pena?" Quando alguém te demonstra carinho. Não, não vale.

E sou também aquela palavra que falta à tua boca... Perdida no vocabulário extenso de quem sabe lidar com palavras... Você improvisa, claro! Há sinônimos demais... E foi-se minha hora.

Sou um minuto de um sopro morno e sem cor, que às vezes te desconforta aos domingos...mas ah, na rua há cores, gente, barulho...sol. Meu sumiço é dado numa janela aberta.

Sabe o que mais? Sou aquele silêncio entre as suas duas faixas preferidas do CD que sempre está no carro... Você já se habituou, eu existo...Mas quem repara nisso? Os dias estão cheios!

Dias esses que estão me apagando em você tão depressa... Me alimentava de cores vivas, que vinham dos sinais de que meu lugar era por perto...

Instante. Instável. Distante...

Eu queria conversar com você! Será que já está dormindo?
Se sim, sou seu sonho bonito...

Que você jamais vai se lembrar quando for hora dos olhos se abrirem.

terça-feira, junho 10, 2014

Fogo sem calor

Você não se apaixonou por mim. 
O amor não é desses fios 
que cortam o céu e turvam a visão. 
Amor não brinca de morto e vivo
Ontem quis, hoje morreu 
Pra ser amor de verdade 
Você nem precisa de algo meu. 
Porque amor pode ser só
Coisa de um
Amor é nosso terreno
Não é relacionamento 
Uma coisa é uma coisa 
O namoro que é outra 
coisa de dois.  

Te escrevo por estar só, 
E porque foi só você 
Quem bagunçou tudo 
Ontem muito fala
Hoje fica mudo 
Te escrevo porque eu sei 
Que não fui eu que errei 
Não amontoei 
Nem carro, nem boi
Nem atropelei ninguém.
Se fujo um pouco 
E me calo 
Não é por medo 
Nem vaidade
É que, apesar da pouca idade 
Sei que amor tem segredos
Talvez,
Se nos conhecermos,
Com tempo, com serenidade
Talvez assim 
Vire uma verdade,
Amor não vira amor 
Tão cedo. 

sábado, maio 31, 2014

Aplauso de uma palma só

Ai, desse aperto no peito...
Eu que me vire com a dor
Inocente, me entrego num beijo
Tua boca retruca:
"Tá bom, eu deixo!"
Usa teus lábios como um favor

"Cê" sabe, moço
eu não me engano
Só mais essa vez me faço enganada
Aceito o sorriso
como se fosse meu
Sabendo que de mim você não quer nada

De resto, o que resta
É o que inventei de nós
A sós, finjo comigo:
"Tá bom
Tá bem
Eu nem ligo,
tenho outros também..."
E em um "ninguém"
Desconto o castigo.

[E sabe? Acho graça
De na mesa farta
Eu me compor de migalhas,
querer ser o mendigo.]

Tudo bem,
Não-amor,
Tudo bem...
Você que se cuide comigo
-Ou sem mim-
O dueto é bonito
Mas eu não preciso.
-Ou talvez sim-
E pra criar monólogo
De amor doído
Eu meu garanto:
Meu coração é perito.

sexta-feira, maio 09, 2014

Revela, Releva.

Ah, meus dias de chuva. Dias de coração partido e inquietude.
Não há nada evidente, aparente. Nada que já não estivesse ali antes.
O corpo todo dói e não suporta a alma que abriga, 
que briga. A mesma velha culpa sem ter a quem culpar.
Perdoe mundo, pela inveja preconceituosa de quem encontrou o amor, encontrou paz de espírito e conforto em ser quem é. Perdão pela revolta que rasga o peito até tremer os dedos, sempre que encontro respostas vazias, nenhum argumento...E ainda sim, me calo. Curvar-me à ignorância alheia me dói como um incêndio no estômago e não me ergo... Sempre exausta, sabe-se lá do quê. 
Perdoa a falta de energia para dedicar ao amor, não vejo caminhos, não vejo cores e nem desfechos bonitos em ninguém. Se há ou não boa intenção, não me importa. É tudo muito o mesmo pra quem já nasceu no tédio. Ainda prefiro os silêncios.
Perdoa o excesso de cautela com desconhecidos e o excesso de desapego aos que convivo, é só o fascínio pelo novo, não dura. Perdoa o enjoo de quem me jura amor. A loucura de querer a aprovação de muitos, mas não amor de alguém. Não há traumas, corações partidos, nem juras desfeitas... É só desencanto. Involuntária, incoerente. É como ler o mesmo livro linear, monocórdio e longo a cada vez que penso em me envolver. Não há ao que recorrer.
E que diabo é isso? Será que a gente já nasce assim meio torto?
Ah, Deus, como eu queria...Como queria ser a pessoa que foge da chuva e enlouquece com a possibilidade da doença, com o incômodo da água no corpo, do vento gelado, mas se alegra ao sentir o toque da pessoa amada. 
Que diabo isso em mim de contemplar a chuva e correr quilômetros para me encharcar, para sentir o vento que me toca sem zelo, só para me sentir viva... 
Eu só tentaria amar alguém com gosto de chuva. 



segunda-feira, abril 07, 2014

Flores pra ninguém

Ai de mim, que decidi criar margaridas 
pra plantar em cada buraco da alma. 
Quis também cultivar girassóis 
e cicatrizar toda ilusão doce
que o desamor deixou destruído. 
E apesar desse peito doído
E do meu coração quase infértil,
consegui meu jardim colorido.
Eu tenho florescido.
Queria enfeitar o amor de alguém por aí, 
Mas procuro, 
Procuro... 
E ninguém me dá borboletas na barriga. 

Tenho uma alma florida, 
que só decora a própria vida...

Até tudo apodrecer.

terça-feira, março 11, 2014

Mol(dura)

Queria me retratar
Desculpar-me com meus versos
Por ocupá-los com tua ausência,
Por ocultá-lo nas reticências...
Por culpar o tempo
Que não ocupei com mais ninguém
Perdi bons domingos,
Fui além
Me desculpe também,
Outros dias bonitos
que não passei com alguém
Que os passaria
Passar ria
Paz seria
Comigo
Sendo amor,
Sendo amigo
Mas sendo,
Inteiro
Vivo.
Sinto muito também,
Corpo dolorido
Eu sei, eu sei
Eu deveria ter dormido
Agora, tarde demais
Tá tarde demais
Amanhã vai ser corrido.
Queria me retratar
Que o retrato que o espelho dá
Continua tratando
De solidão.


quinta-feira, fevereiro 06, 2014

Sobre o fim que não foi nosso

  Ela estava lá. Olhava fixamente para um ponto que deixava seus olhos baixos, quase cerrados. Sentada no banco, com pés afastados, os joelhos encostados e os cotovelos sobre eles. O cabelo estava solto e ventava lentamente pro lado oposto ao de sua franja...só a franja se mexia. Era como se até o vento tentasse fazê-la reagir, mas o esforço seguia inútil.
  Por ali, ele a observava. Queria ter um pensamento com o sorriso dela sob o sol se pondo, numa lembrança amarelada, como na fotografia dos filmes franceses que parecem feitos pra ela. Esforçou-se, mas não construiu nada muito nítido, estava preocupado com toda mágoa que ela carregava no olhar. Torcia pelo sucesso do vento, mas nada acontecia. Decidiu, depois de muito custo, sentar-se também.

    - Sabe o qual é a escolha mais difícil do mundo? Como conhecer alguém do zero. É como uma frase do Fernando Sabino que me perseguiu por toda vida: "O diabo dessa vida é que de cem caminhos temos que escolher apenas um e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove." Posso aqui falar de uma preferência minha, do calor do dia de hoje, de problemas políticos, Deus, amor, pessoas, violência... São infinitas possibilidades de assuntos diferentes que te provocarão reações diferentes, mas tenho que escolher um. O que fizer aqui, comandará o futuro de nós dois. É muita responsabilidade, não acha?

    - É. É como se fôssemos um papel em branco, e cada pessoa que conhecêssemos fizesse uma marca, sempre acrescentando algo, mesmo que tédio. Não te ocorre que quanto mais pessoas conhecemos, mais e mais marcas, e um dia ficará difícil distinguir todas elas? Ou pior, chegará um dia em que não haverá mais espaços em branco? Você acha possível alguém deixar tantas marcas em você e não sobrar espaço para mais ninguém? Com o tempo, vamos ficando mais e mais desgastados.

    - Acho possível sim.

    - E você acha possível a pessoa marcada não conseguir fazer as mesmas marcas em quem a marcou?

    - Humm..Deixa eu pensar...

    - É isso. Fui muito marcada e não soube fazer marcas. Dos cem caminhos que tive pra escolher, devo ter escolhido um bem imbecil. Então, não se preocupe tanto se escolher errado agora, eu sou a pessoa mais empática que você pode encontrar por aqui. 

    - Mas você tem certeza de que não deixou marcas?

    - Ele me deixou ir embora.

    - Talvez ao te olhar pela primeira vez, para ele foi como olhar pra um espelho, sem poder controlar o reflexo. Tudo o que você fazia era tão certo pra ele, tão único, intenso, colorido, que se desesperou. Teve medo de seguir com aquilo e não conseguir mais surpreender você, acompanhar você. Então ele procurava indícios de um possível abandono seu em qualquer coisa: Um abraço mais frouxo, um bom dia menos expressivo, um beijo apressado. Tanto amor deve ter convencido sua cabeça, ficou com medo de sufocá-la... Vai ver gostar de alguém era novo pra ele. Temeu até perder sua maneira de ver o mundo por adorar ver tudo através dos seus olhos. O que aconteceu, foi que sua marca foi tão forte, que acabou rasgando o papel.

    - Mas eu nunca quis machucar ninguém.

    - Não machucou, ensinou... Aprender às vezes dói. Dói deixar de ser inteiro para se dividir em dois.

Finalmente ela o encara nos olhos, ele treme. Ela parece conhecer sua alma. Respiram.

    - Eu vim te buscar. Volta pra casa? 

quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Sós só seus

Seu instante insiste...Triste.
Você nem me procurou,não quis saber do meu dia nem de como me roubou a alegria desde que te reencontrei. Não quer saber do fim da minha calma, que já não era lá essas coisas, e que parece ter se mudado pras suas noites de sono inabaláveis, sem mim.

Seu instante insiste...Minha cabeça não desiste.
Queria poder enterrar as toda as imagens, todo clichê que já rabisquei pra você. De que adianta escrever sobre o que já não faz mais parte de mim? Não procuro saber de você, já sei das suas verdades. Só repasso teus passos "bêbados" pelo escuro do quarto, todo desajeitado, pra buscar meu copo d'água. O passado só é o melhor lugar pra quem tem pena de morte, e pelo visto só minha memória não deu essa sorte. Essa vontade não morre... Logo agora, às 3 da manhã.
Obrigada por mais esse incômodo tão cômodo, porque ainda me faz bem encontrar os seus olhos quando tento fechar os meus. Ainda escuto sua voz carregada de ar e de risos cantarolando mal por aí. Eu sei que sou só minha, mas meus instantes mais sós são só seus. Algum tipo de desvio de caráter masoquista... É, pensando bem, ainda bem que você se livrou de mim. Eu também me livraria se tivesse a chance. Sendo muito honesta, eu merecia...Depois de ter abandonado alguns por aí sem o menor critério ou arrependimento, eu precisava provar como era. Aposto que agradeceriam por sua vingança, parabéns.

Ah esse seu instante...Só a madrugada não parece o bastante.
Por falar em bastar, eu tenho me odiado tanto...Não só por não te esquecer, apesar de todos os motivos mais que razoáveis para isso, mas por querer descontar no mundo o buraco que me foi aberto. Acho que é assim que tenho reagido. Nunca há ninguém engraçado o suficiente, cruel e irônico o bastante e nem tão carinhoso fora de hora como você. É, porque eu nunca sabia o que esperar dos seus carinhos, eles vinham tão repentinos e tão meus, que apesar das surpresas constantes, eu não me sentia desconfortável...
E, sabe, tenho estado com medo. Conhecer alguém é um processo muito desgastante, pareço não ter energia pra isso mais, (apesar, claro, da minha belíssima juventude vista aos olhos de terceiros), entende? Tornar-me íntima de alguém tem sido uma guerra de tantas batalhas perdidas, machucando alguns inocentes... Eu não quero dividir minha rotina, não quero alguém achando que me conhece ou supondo que eu retribuo algum sentimento. Todos que se aproximam um pouco mais de mim se tornam prepotentes, aos meus olhos, porque acham que podem tomar seu lugar. Pobres iludidos, eu sou uma bomba relógio. (Mais iludidos que eu?)

Mais saiba, que acada instante seu, dou mais voz à minha razão e fico mais intolerante.
Cuidado, sabemos que eu enjoo de tudo...
E sua hora me parece cada vez menos distante.