terça-feira, maio 14, 2019

Indigestão moderna

Eu tenho atraído moscas. 
Elas estão em mim. 
Por todos os lados só em mim. 
O lugar não importa, elas não vão embora. 
Devia me limpar e esfregar até a carne, mas elas não vão embora... a sujeira impregnada do silenciar das vontades da alma, meus desejos estão mortos e não há mais disfarce. 
Conservo uma ilusão mas não engano a natureza. 

O que está vivo sabe estar vivo?  

Obedeço minha intrínseca didática humana de seguir o fluxo como um rio, mas o rio não sabe que é rio. 
Eu sei. 
Sei que existo, que apenas tenho seguido sem pretensão de desaguar, e sei que não sou rio. 
Sorrio. 
Inconsciente doses de morfina, 
melhor ser tudo de menos, sentir dá trabalho de mais. 

Mais e mais bichos... 

Eles voando ao meu redor me obrigaram a cuspir essas palavras que cheiram a mofo. 

O céu me emocionava tanto...
Se um dia já fui poesia,
Hoje me alimento de moscas.